segunda-feira, outubro 03, 2011

Dia da Rabada (Eduardo Grizendi)

(como eu consegui saciar meu desejo e meu cachorro conseguiu salvar o osso)


Foi no final de ano, naqueles dias perdidos entre o natal e o ano novo. Minha família, mulher e filhas, ficou em Minas e eu, para ganhar o pão de cada dia, voltei para enganar estes dias de trabalho.


Cheguei na Segunda-feira, e até que trabalhei razoavelmente, se considerar que viajei de ônibus e cheguei de madrugada. Ou seja, dormi em poltrona, classe econômica (não era leito, não!).


De manhã, olhei para o gato e o cachorro, que tinham ficado ali, sem ninguém praticamente de companhia. Só uma ex-empregada de meu trabalho ia todo dia dar ração para eles. O cachorro não come ração de cachorro, só de gato. O gato até que come sua ração , mas uma outra. Ou seja, é ração de gato para gato, naturalmente, e de gato para cachorro, curiosamente.


Dizer que o cachorro come ração de gato não é totalmente verdade. Ele come na falta de alguma mistura. E também come hoje, engole amanhã, mas fica enjoado cedo, cedo. E já  tinha se passado quase uma semana e eu imaginava o quanto ele estava de saco cheio da ração.


Aí veio a idéia. Passei no supermercado no final da tarde e procurei por algo que ele comesse com gosto. Que tivesse carne mas também osso para lembrá-lo que ele é um cachorro. Por que não uma rabada ?.Taí, era disto que ele precisava comer.

Escolhi a rabada. Nem pequena, nem grande, era de bom tamanho. Saí triunfante do supermercado, quase 8 horas da noite. Cheguei rapidamente em casa e logo fui preparar o seu manjar. Como estava sozinho em casa, não tinha pressa, e como ele não comia algo assim, fazia muito tempo, resolvi caprichar.

Coloquei o óleo na panela de pressão e refoguei uma cebola picadinha. Talvez eu até coma  um pedaço, pensei. Por que não ? Afinal, eu gosto muito de rabada. Deixei dourar a cebola. Temperei a rabada com sal e alho e coloquei na panela de pressão para dar uma tostada. E mexi daqui e dali, enquanto fervia, por fora, uma água para colocar. Coisas de cozinha, acelera a preparação, se você colocar a água já fervendo na panela de pressão.

Dito e feito. Rapidamente, começou a cheirar deliciosamente a rabada, na panela. Fui me envolvendo com o clima da rabada (clima, quer dizer, preparação, cheiro, cachorro, etc...). Abri um vinho tinto bom, californiano, da reserva de minha mulher, e fiquei aguardando ficar pronto, já convicto de que ia também comer da rabada.

A rabada finalmente ficou pronta. Abri a panela de pressão e senti que estava divina. Já tinha tomado metade da garrafa do vinho e a fome tinha apertado. Dei uma olhada pro cachorro, na área de fora, e senti que ele estava até adivinhando. Mas primeiro era a minha vez porque tinha sido eu que comprei e preparei a rabada.

Servi-me da rabada. Coloquei uns três ou quatro pedaços, dos graúdos, no prato. Fui prá mesa e comi, prazerosamente. Voltei à panela. Separei os ossos (as vértebras, para quem não sabe, pois a rabada é o fim da colina vertebral, ou seja, literalmente, o rabo da vaca- ou do boi). Afinal os ossos já são do cachorro.

Servi-me novamente, agora com pedaços não tão graúdos, mas nem por isto menos saborosos. Antes de voltar à mesa, resolvi servir os ossos da primeira leva para o cachorro. Nem olhei direto para ele, com uma pontinha de vergonha. Afinal , a rabada era para ser toda dele.

Comi a segunda leva. Continuava excelente. Tomei mais vinho. Sobrou mais ossos. E servi o cachorro os ossos da segunda leva.

Servi-me da terceira e última leva Não tinha sobrado rabada na panela, nem sequer aqueles cotocos que mesmos os maiores rabadeiros até desprezam. Comi a terceira e última leva. Tomei o último gole do vinho. E fui servir o cachorro, a ultima leva (de ossos, naturalmente), convicto que cachorro adora mesmo é osso. Osso de rabada é bom prá cachorro!

Que ceia, que nada ! Final do ano, o melhor da festa foi a rabada do meu cachorro.

domingo, outubro 02, 2011

Prazer de amar (Cristiane Campos)

Fecho os olhos.
Lembro-me do prazer de amar.
Uma onda de calor percorre meu corpo.
Meus pelos se arrepiam.

Abro os olhos.
Realidade.
Corpos que não se entralaçam.
Irmandade.

Vivo sem ter o prazer de amar.

quarta-feira, setembro 28, 2011

Retrato falado... Esta história, a Rede Globo perdeu... (Cristiane Campos)

Blog de Leila Pinheiro me inspirou a contar esta história.

Possuo uma cadela vira-lata, branca com manchas bege, chamada Menina.


A Menina é uma cadelinha prá lá de sem vergonha: basta olhar prá algum cachorro, que já está prenhe de novo! Para se ter uma idéia, sua última prenhez foi de um pincher, "desse tamanhinho", que não sei como conseguiu cruzar com ela e o resultado dessa empreitada foi uma ninhada com 4 cachorrinhos, sendo que 2 nasceram mortos. As duas que sobreviveram foram batizadas de Branquinha e Morena. A Branquinha, saiu à mãe: toda branca, com manchas beges, mas com corpinho de pincher. A Morena saiu ao pai: toda marrom, com o corpinho da mãe (tipo Basset).


Como toda avó que se preze, achava minhas "netinhas" as coisas mais fofas do mundo. Faziam um sucesso danado aqui na quadra: todos brincavam com elas, mas ninguém queria levá-las para casa. Imagine eu, em um apartamento, com 3 cachorras! Amanhecia e anoitecia lavando área de serviço...


Apesar de todo o amor que eu sentia pelas minhas "netinhas", já estava esgotada! Além da minha jornada de trabalho normal, ainda tinha o 2º tempo em casa e a prorrogação com as netinhas... Era muito trabalho para uma pessoa só. Até a Menina, que era a mãe, já estava exausta!


Decidi, então, que já era hora de dar as "netinhas". Em uma de minhas saídas para passear com as cachorras, encontrei-me com uma senhora, dona de um "outro pincher", que ficou alucinada pela Branquinha (minha favorita!). Conversa vai, conversa vem, disse-me que queria uma fêmea para fazer companhia ao seu solitário cachorrinho. 

Sensibilizada com a solteirice do seu cachorro, concordei em dar a Branquinha àquela senhora e marquei um horário para levá-la ao seu apartamento, a fim de que a Menina não sentisse a dor de vê-la partir...


Conforme combinado, fui ao apartamento daquela senhora entregar a Branquinha. A coitadinha tremia mais do que "vara verde" e olhava para mim com aquele ar de "não quero ir embora"... Dei a cachorrinha com o coração partido e com vontade de estrangular a Menina! Por que ficar fazendo filho toda hora e eu ter de ser a carrasca e dá-los?


Voltei para a casa cabisbaixa, com o coração partido, lembrando daquele olhar lânguido da Branquinha me implorando para não dá-la... Ô dó...


Como a vida segue em frente, fui trabalhar. No final da tarde, recebo uma ligação da minha enteada: - Cris, veio um rapaz aqui em casa devolver a Branquinha...


Ai, meu Deus, pensei... Já estava me acostumando com a idéia da doação! Lá voltou a cachorrinha para casa, de novo!


Como iria resolver essa questão? Ninguém queria as coitadinhas - nem de graça, nem pagando! Era só bilú, bilú e bye bye!


Cansada de tanta cachorra e tanta limpeza, liguei para minha mãe em Goiânia, pedindo para ela arrumar duas pessoas que gostassem de cachorro para que pudéssemos dar as duas... Minha mãe então disse para levá-las no final de semana, que ela daria um jeito de arrumar alguém que ficasse com elas.


Respirei aliviada.... Resolveria o caso das duas "menininhas" de uma só vez.


Como iria para Goiânia em um Santana velhinho (de apenas 18 anos) que me fora emprestado pelo meu pai, achei por bem trocar a bateria do carro na sexta-feira, para que nada de ruim acontecesse no meio do caminho.


No sábado, acordei toda animada e coloquei as minhas netinhas no carro. Meu marido, meu filho e minhas enteadas iriam no outro carro, pois eu deixaria em Goiânia, além das netinhas, aquele carrinho velho que tanto me servira, mas que já estava precisando de alguns consertos.


Bem, a viagem seria uma aventura, já que somente um vidro do carro - o do motorista - abria. E quem mora no Centro-Oeste sabe o calor que faz durante o dia...


Com Branquinha e Morena a postos, saíram os dois carros rumo a Goiânia. Após alguns poucos quilômetros, perto de Santo Antonio Descoberto, recebo uma ligação de meu marido, dizendo que voltaria a Brasilia, pois havia esquecido - nada menos  - do que a mala em nossa residência... Disse a ele que voltasse, pois eu seguiria viagem com as menininhas e depois nos encontraríamos em Goiânia.


(Vou abrir um parêntese nesta história: a minha cadela, a Menina, morre de enjôo ao viajar de carro. Nada fica em seu estômago. Nem Dramin segura a coitada. Viaja vomitando o tempo todo.)


Alguns quilômetros após Santo Antonio Descoberto, aconteceu o que eu já previa: as duas, Branquinha e Morena, começaram a enjoar. As duas estavam deitadinhas no banco de trás do carro e começaram a vomitar, vomitar...


Eu, dirigindo, estava quase enjoando também... Pudera, o carro só abria o vidro do motorista, pois os outros estavam quebrados. Imaginem só minha situação: com as duas vomitando, e eu tendo que aguentar firme o calor e o cheiro que chegavam até mim.


Supunha eu que as duas já tivessem enjoado tudo o que tinham direito, quando a Branquinha passou para o banco da frente (do carona) e logo em seguida, passou para o meu colo e terminou o seu serviço ali, bem na minha perna.... Arghhhhhhh


Pensei, cá com os meus botões, que era hora de apertar o acelerador e chegar o quanto antes em Goiânia. Nem bem acabei de pensar, o inevitável aconteceu de novo: a Morena, que estava no banco de trás, colocou as patinhas no meu banco e vapt! vomitou bem no meu ombro.... Arghhhhhhh

Acreditava eu que já havia passado por todas as provações, mas estava ligeiramente enganada. Faltavam mais ou menos uns 5 km para avistar o posto da Polícia Rodoviária, que fica bem na entrada da cidade, quando O CARRO QUEBROU! 


Minha vontade era de sentar e chorar... A situação era de dar dó: eu, toda vomitada naquele carro calorento; as "netinhas", de tanto passarem mal, estavam quase desmaiadas, de tão fraquinhas!


Desci do carro, com o sol a pino, peguei as duas no colo e tirei o celular da bolsa, para avisar o meu marido que eu estava naquela situação lastimável na beira da estrada.


Tchan, tchan, tchan, tchan... Parece até brincadeira, mas o celular NÃO PEGOU! Me encostei no carro, olhei para as duas e quando pensava no que fazer, parou um carro... Um rapaz desceu, se identificou e chamou um guincho para mim. Apesar dele ter sido super atencioso, tratei de despachá-lo logo, tamanho era o meu "perfume". Fiquei aproximadamente uma hora aguardando o guincho. Quando esperava o guincho, adivinhe quem eu vejo? Meu marido, que quase passa na estrada sem me avistar... Quando ele acabou de estacionar, o guincho chegou.


Fala sério... esta história não era digna de ir para o Retrato Falado?


Pena que o quadro acabou...

(esta história foi vivida por mim em 2004. A minha cadelinha, Menina, infelizmente já morreu e é para ela que faço esta homenagem).

Chico Buarque - Tanto Mar

segunda-feira, abril 04, 2011

“De tanto ver crescer a INJUSTIÇA, de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos MAUS, o homem chega a RIR-SE da honra, DESANIMAR_SE de justiça e TER VERGONHA de ser honesto” (Rui Barbosa)

segunda-feira, fevereiro 28, 2011

"Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito." (Machado de Assis)

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Filho Adotivo (Composição: Arthur Moreira e Sebastião Ferreira da Silva)

Com sacrifício
Eu criei meus sete filhos
Do meu sangue eram seis
E um peguei com quase um mês
Fui viajante
Fui roceiro, fui andante
E prá alimentar meus filhos
Não comi prá mais de vez...

Sete crianças
Sete bocas inocentes
Muito pobres, mas contentes
Não deixei nada faltar
Foram crescendo
Foi ficando mais difícil
Trabalhei de sol a sol
Mas eles tinham que estudar...

Meu sofrimento
Ah! meu Deus, valeu a pena
Quantas lágrimas chorei
Mas tudo foi com muito amor
Sete diplomas
Sendo seis muito importantes
Que as custas de uma enxada
Conseguiram ser doutor...

Hoje estou velho
Meus cabelos branqueados
O meu corpo está surrado
Minhas mãos nem mexem mais
Uso bengala
Sei que dou muito trabalho
Sei que às vezes atrapalho
Meus filhos até demais...

Passou o tempo
E eu fiquei muito doente
Hoje vivo num asilo
E só um filho vem me ver
Esse meu filho
Coitadinho, muito honesto
Vive apenas do trabalho
Que arranjou para viver...

Mas Deus é grande
Vai ouvir as minhas preces
Esse meu filho querido
Vai vencer, eu sei que vai
Faz muito tempo
Que não vejo os outros filhos
Sei que eles estão bem
Não precisam mais do pai...

Um belo dia
Me sentindo abandonado
Ouvi uma voz bem do meu lado
Pai eu vim prá te buscar
Arrume as malas
Vem comigo pois venci
Comprei casa e tenho esposa
E o seu neto vai chegar...

De alegria eu chorei
E olhei pr'o céu
Obrigado meu Senhor
A recompensa já chegou
Meu Deus proteja
Os meus seis filhos queridos
Mas foi meu filho adotivo
Que a este velho amparou...

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Viver dói (minha autoria)

Que dor é essa,
que machuca o coração?
Que saudade é essa,
De um tempo que não vivi?


Que lágrimas são essas,
que me enchem de emoção?
Que olhar é esse,
que nunca percebi?

Foi-se a dor,
foi-se a saudade,
foram-se as lágrimas
foi-se o olhar...

Viver dói.

domingo, fevereiro 20, 2011

Trecho de "A festa no Céu" (Folclore Brasileiro)

"Conta-se, lá pras bandas do brejo, que Nossa Senhora, com pena do infeliz sapo, juntou todos os pedaços do seu corpo esparramado nas pedras e o sapo viveu de novo. Aprendeu uma sábia lição: Nosso verdadeiro inimigo está em nós mesmos. Não são os grandes planos que dão certo, são os pequenos detalhes".

A descoberta do amor (Mahatma Gandhi)









Ensaia um sorriso
e oferece-o a quem não teve nenhum.
Agarra um raio de sol
e desprende-o onde houver noite.
Descobre uma nascente
e nela limpa quem vive na lama.
Toma uma lágrima
e pousa-a em quem nunca chorou.
Ganha coragem
e dá-a a quem não sabe lutar.
Inventa a vida
e conta-a a quem nada compreende.
Enche-te de esperança
e vive á sua luz.
Enriquece-te de bondade
e oferece-a a quem não sabe dar.
Vive com amor
e fá-lo conhecer ao Mundo.

Saudade da Menina...



Cachorros não são eternos na nossa vida,
mas eles fazem nossas vidas eternas.
(Roger Caras)

Andrea Bocelli & Katherine Mc Phee - The Prayer

Zumbis e Zumbidos III (Antonio Brás Constante)

Alguns temas são como certos monstros que assolam nosso imaginário, quando se acha que o assunto está morto e enterrado ele reaparece repaginado a nos atormentar de novo. Desta vez, o foco são os famigerados chefes. Temos por exemplo, o chefe zumbi. Ele se arrasta pelas empresas, é pegajoso, não sabe se expressar, e quando aparece algum problema se finge de morto, suga seu cérebro na solução de problemas, mas leva o crédito pelo trabalho que você fez. Outro tipo de chefe é o chefe vampiro, que vive morcegando no serviço. Adora tirar o sangue dos funcionários, voa para longe quando tem que resolver alguma coisa, e como todo bom vampiro, vai direto na jugular se por desgraça você comete um erro, dizendo que vai querer o seu pescoço se você não resolver o problema. Não podemos esquecer o chefe múmia, um verdadeiro clássico administrativo. Vive enrolado nas próprias funções, administra a empresa como se vivesse no tempo dos faraós, engessado em burocracias e rotinas sem sentido. Ochefe homem invisível é facil de perceber, já que sempre some quando uma dificuldade aparece. Mas quando você está resolvendo algum assunto pessoal, ou tomando cafezinho, ele reaparece bem atrás de você, sempre com cara de quem não te paga para ficar matando tempo. Já o chefe demônio é aquela figura que parece sempre disposta a transformar sua vida em um inferno. Nunca ouvimos ele falando calmamente, é sempre cuspindo fogo pela boca. Parece que tem o diabo no corpo, a eternidade não existe em seu dicionário visto estar sempre querendo que o serviço seja feito pra ontem. Nas mãos dele você sempre acaba pagando seus pecados e comendo o pão que o diabo amassou. Você também deve conhecer o chefe abominável homem das neves, com seu jeito frio de gerenciar equipes. Te coloca em uma fria atrás da outra. Gosta de deixar rastros por onde passa, dizendo que seus feitos são uma lenda, mesmo que ninguém tenha provas disso. O chefe lobisomem é aquele que até engana parecendo gente, mas no fundo é um cachorro. Um animal corporativo selvagem,  sempre pronto a estraçalhar quem fique em seu caminho. O mérito é sempre dele e ele que não larga ou compartilha esse osso por nada desse mundo.O chefe fantasma tem mesa, sala, um contra-cheque polpudo mas não trabalha nem aparece no serviço. Geralmente encontramos este tipo de chefe em repartições públicas. Enfim, neste mundo monstruoso em que vivemos, devemos torcer para ter como chefe o SHREK, que é um monstro na hora de lutar por sua equipe e que dispõe de todas as qualidades que um chefe deveria ter.

sábado, fevereiro 19, 2011

O Som do Coração

Quando eu decidi escrever este blog, tornei-o impessoal. Acho que já me referi a isso em alguma postagem. Mas hoje não posso deixar de fazer um comentário.

Acabei de assistir o filme "O Som do Coração" (pela segunda vez). E como da primeira vez, voltei a me emocionar. O filme, que trata da história de um menino abandonado e seu amor pela música, me tocou profundamente.

Não sei se ainda terei lágrimas para assistí-lo novamente, mas recomendo. É um filme que merece ser visto e revisto, por quem tem afeto e música no coração.

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

"Para sermos felizes até certo ponto é preciso que tenhamos sofrido até o mesmo ponto". (Edgar Allan Poe)

Annabel Lee (Edgar Allan Poe - traduzido por Fernando Pessoa)

Foi há muitos e muitos anos já,
Num reino de ao pé do mar.
Como sabeis todos, vivia lá
Aquela que eu soube amar;
E vivia sem outro pensamento
Que amar-me e eu a adorar.

Eu era criança e ela era criança,
Neste reino ao pé do mar;
Mas o nosso amor era mais que amor --
O meu e o dela a amar;
Um amor que os anjos do céu vieram
a ambos nós invejar.

E foi esta a razão por que, há muitos anos,
Neste reino ao pé do mar,
Um vento saiu duma nuvem, gelando
A linda que eu soube amar;
E o seu parente fidalgo veio
De longe a me a tirar,
Para a fechar num sepulcro
Neste reino ao pé do mar.

E os anjos, menos felizes no céu,
Ainda a nos invejar...
Sim, foi essa a razão (como sabem todos,
Neste reino ao pé do mar)
Que o vento saiu da nuvem de noite
Gelando e matando a que eu soube amar.

Mas o nosso amor era mais que o amor
De muitos mais velhos a amar,
De muitos de mais meditar,
E nem os anjos do céu lá em cima,
Nem demônios debaixo do mar
Poderão separar a minha alma da alma
Da linda que eu soube amar.

Porque os luares tristonhos só me trazem sonhos
Da linda que eu soube amar;
E as estrelas nos ares só me lembram olhares
Da linda que eu soube amar;
E assim 'stou deitado toda a noite ao lado
Do meu anjo, meu anjo, meu sonho e meu fado,
No sepulcro ao pé do mar,
Ao pé do murmúrio do mar.

sábado, fevereiro 12, 2011

Meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê! (Florbela Espanca)