quarta-feira, setembro 28, 2011

Retrato falado... Esta história, a Rede Globo perdeu... (Cristiane Campos)

Blog de Leila Pinheiro me inspirou a contar esta história.

Possuo uma cadela vira-lata, branca com manchas bege, chamada Menina.


A Menina é uma cadelinha prá lá de sem vergonha: basta olhar prá algum cachorro, que já está prenhe de novo! Para se ter uma idéia, sua última prenhez foi de um pincher, "desse tamanhinho", que não sei como conseguiu cruzar com ela e o resultado dessa empreitada foi uma ninhada com 4 cachorrinhos, sendo que 2 nasceram mortos. As duas que sobreviveram foram batizadas de Branquinha e Morena. A Branquinha, saiu à mãe: toda branca, com manchas beges, mas com corpinho de pincher. A Morena saiu ao pai: toda marrom, com o corpinho da mãe (tipo Basset).


Como toda avó que se preze, achava minhas "netinhas" as coisas mais fofas do mundo. Faziam um sucesso danado aqui na quadra: todos brincavam com elas, mas ninguém queria levá-las para casa. Imagine eu, em um apartamento, com 3 cachorras! Amanhecia e anoitecia lavando área de serviço...


Apesar de todo o amor que eu sentia pelas minhas "netinhas", já estava esgotada! Além da minha jornada de trabalho normal, ainda tinha o 2º tempo em casa e a prorrogação com as netinhas... Era muito trabalho para uma pessoa só. Até a Menina, que era a mãe, já estava exausta!


Decidi, então, que já era hora de dar as "netinhas". Em uma de minhas saídas para passear com as cachorras, encontrei-me com uma senhora, dona de um "outro pincher", que ficou alucinada pela Branquinha (minha favorita!). Conversa vai, conversa vem, disse-me que queria uma fêmea para fazer companhia ao seu solitário cachorrinho. 

Sensibilizada com a solteirice do seu cachorro, concordei em dar a Branquinha àquela senhora e marquei um horário para levá-la ao seu apartamento, a fim de que a Menina não sentisse a dor de vê-la partir...


Conforme combinado, fui ao apartamento daquela senhora entregar a Branquinha. A coitadinha tremia mais do que "vara verde" e olhava para mim com aquele ar de "não quero ir embora"... Dei a cachorrinha com o coração partido e com vontade de estrangular a Menina! Por que ficar fazendo filho toda hora e eu ter de ser a carrasca e dá-los?


Voltei para a casa cabisbaixa, com o coração partido, lembrando daquele olhar lânguido da Branquinha me implorando para não dá-la... Ô dó...


Como a vida segue em frente, fui trabalhar. No final da tarde, recebo uma ligação da minha enteada: - Cris, veio um rapaz aqui em casa devolver a Branquinha...


Ai, meu Deus, pensei... Já estava me acostumando com a idéia da doação! Lá voltou a cachorrinha para casa, de novo!


Como iria resolver essa questão? Ninguém queria as coitadinhas - nem de graça, nem pagando! Era só bilú, bilú e bye bye!


Cansada de tanta cachorra e tanta limpeza, liguei para minha mãe em Goiânia, pedindo para ela arrumar duas pessoas que gostassem de cachorro para que pudéssemos dar as duas... Minha mãe então disse para levá-las no final de semana, que ela daria um jeito de arrumar alguém que ficasse com elas.


Respirei aliviada.... Resolveria o caso das duas "menininhas" de uma só vez.


Como iria para Goiânia em um Santana velhinho (de apenas 18 anos) que me fora emprestado pelo meu pai, achei por bem trocar a bateria do carro na sexta-feira, para que nada de ruim acontecesse no meio do caminho.


No sábado, acordei toda animada e coloquei as minhas netinhas no carro. Meu marido, meu filho e minhas enteadas iriam no outro carro, pois eu deixaria em Goiânia, além das netinhas, aquele carrinho velho que tanto me servira, mas que já estava precisando de alguns consertos.


Bem, a viagem seria uma aventura, já que somente um vidro do carro - o do motorista - abria. E quem mora no Centro-Oeste sabe o calor que faz durante o dia...


Com Branquinha e Morena a postos, saíram os dois carros rumo a Goiânia. Após alguns poucos quilômetros, perto de Santo Antonio Descoberto, recebo uma ligação de meu marido, dizendo que voltaria a Brasilia, pois havia esquecido - nada menos  - do que a mala em nossa residência... Disse a ele que voltasse, pois eu seguiria viagem com as menininhas e depois nos encontraríamos em Goiânia.


(Vou abrir um parêntese nesta história: a minha cadela, a Menina, morre de enjôo ao viajar de carro. Nada fica em seu estômago. Nem Dramin segura a coitada. Viaja vomitando o tempo todo.)


Alguns quilômetros após Santo Antonio Descoberto, aconteceu o que eu já previa: as duas, Branquinha e Morena, começaram a enjoar. As duas estavam deitadinhas no banco de trás do carro e começaram a vomitar, vomitar...


Eu, dirigindo, estava quase enjoando também... Pudera, o carro só abria o vidro do motorista, pois os outros estavam quebrados. Imaginem só minha situação: com as duas vomitando, e eu tendo que aguentar firme o calor e o cheiro que chegavam até mim.


Supunha eu que as duas já tivessem enjoado tudo o que tinham direito, quando a Branquinha passou para o banco da frente (do carona) e logo em seguida, passou para o meu colo e terminou o seu serviço ali, bem na minha perna.... Arghhhhhhh


Pensei, cá com os meus botões, que era hora de apertar o acelerador e chegar o quanto antes em Goiânia. Nem bem acabei de pensar, o inevitável aconteceu de novo: a Morena, que estava no banco de trás, colocou as patinhas no meu banco e vapt! vomitou bem no meu ombro.... Arghhhhhhh

Acreditava eu que já havia passado por todas as provações, mas estava ligeiramente enganada. Faltavam mais ou menos uns 5 km para avistar o posto da Polícia Rodoviária, que fica bem na entrada da cidade, quando O CARRO QUEBROU! 


Minha vontade era de sentar e chorar... A situação era de dar dó: eu, toda vomitada naquele carro calorento; as "netinhas", de tanto passarem mal, estavam quase desmaiadas, de tão fraquinhas!


Desci do carro, com o sol a pino, peguei as duas no colo e tirei o celular da bolsa, para avisar o meu marido que eu estava naquela situação lastimável na beira da estrada.


Tchan, tchan, tchan, tchan... Parece até brincadeira, mas o celular NÃO PEGOU! Me encostei no carro, olhei para as duas e quando pensava no que fazer, parou um carro... Um rapaz desceu, se identificou e chamou um guincho para mim. Apesar dele ter sido super atencioso, tratei de despachá-lo logo, tamanho era o meu "perfume". Fiquei aproximadamente uma hora aguardando o guincho. Quando esperava o guincho, adivinhe quem eu vejo? Meu marido, que quase passa na estrada sem me avistar... Quando ele acabou de estacionar, o guincho chegou.


Fala sério... esta história não era digna de ir para o Retrato Falado?


Pena que o quadro acabou...

(esta história foi vivida por mim em 2004. A minha cadelinha, Menina, infelizmente já morreu e é para ela que faço esta homenagem).

Chico Buarque - Tanto Mar