Caminhadas ao ar livre são ótimas pra se refletir sobre tudo. Esta semana, por exemplo, tenho refletido sobre questões políticas. Ou seja, as eleições que estão bem à nossa frente. Claro que a maioria de nós está assim, um tanto cansada de político, principalmente daqueles que nada fazem de concreto pelo povo ou, pior ainda, dos que saqueiam o erário público. Ou seja, literalmente roubam de nós.
Mas esta é uma discussão complexa e longa. O que tenho notado, contudo, além, claro, da descrença e apatia do eleitor, é que às vésperas da eleição muita gente não sabe em quem votar, principalmente quando se trata de escolher seus representantes no Congresso e na Assembléia.
Sendo assim, resolvi dividir com os leitores algumas sugestões que venho adotando para escolher meus candidatos e que, a bem da verdade, me foram ensinadas pela minha guru, Ana Lia.
Pra começar, esqueçam tudo o que já ouviram, viram ou leram. A sugestão aqui é uma forma alternativa, meio Zen. Mas a amiga que me indicou esta abordagem nunca errou nas suas escolhas, nem nas suas observações. Sugiro então que se observem alguns detalhes interessantes, mas que nada têm a ver com habilidades políticas ou com projetos e fórmulas mirabolantes que muitos apresentam. Comece observando traços, coisas simples, comuns e normais: pra começar, veja se o candidato tem voz clara, límpida, se sabe conversar sem enrolar as palavras. Depois disto, de saber que se pode conversar com ele sem ficar aflita, veja se ele gosta de natureza, se ele conhece algum tipo de planta.
Melhor ainda se ele gostar de cultivar alguma espécie (pode ser até um reles, mas providencial, vaso de temperos), ou se já plantou alguma árvore (não vale marketing só para sair na mídia). Animais: é importantíssimo saber se ele gosta (não apenas tolera) de animais. E não vale gostar de boi ou cavalo de raça. Tem que ser cachorro, gato, passarinho, papagaio, borboleta, esses mais miúdos por quem a gente acaba se afeiçoando. Se ele tiver um animal em casa, então é o máximo. Mas não vale ser do filho (a) ou da mulher, bem entendido.
Estes detalhes podem revelar, sim, o grau de afetividade e interatividade dele com a natureza e o universo. Veja também se ele pratica algum esporte. Pode ser caminhada, esteira, yoga (seria o máximo!). Saúde, meus caros, é fundamental.
Vamos pular agora para a área intelectual. É vital saber quantos e quais livros seu candidato já leu. E quais os filmes a que ele assistiu também. Procure saber se ele conhece clássicos como "O coração das trevas", de Joseph Conrad; "Zen e a arte da manutenção de motocicletas"; "Grande sertão: veredas"; de João Guimarães Rosa (1956); "Crime e castigo", de Dostoievski, "A metamorfose", de Franz Kafka"; "Conde de Monte Cristo", "Encontro marcado"; "Cem anos de solidão" e importantíssimo: se ele gosta de poesia, Drummond, por exemplo. Se ele conhecer a obra de Manoel de Barros então... é um sucesso! Agora, se ele(a) só entrou numa livraria uma vez e pra comprar o livro da Bruna Surfistinha ou Paulo Coelho, esqueça. Exorte-o. Sem pena.
No cinema, é bom que ele tenha assistido também a alguns clássicos importantes: "Cidadão Kane"; "No tempo das diligências"; "Os melhores anos de nossas vidas"; "O anjo azul"; "O morro dos ventos uivantes"; "Ladrões de bicicleta"; "O encouraçado de Potemkin"; "O ladrão de Bagdá"; "Acossado"; "A felicidade não se compra"; "Guerra e paz". Esses são alguns exemplos. Existem outros. Saber escolher livros e filmes é uma qualidade absolutamente necessária e fundamental para qualquer ser humano, principalmente para quem quer ajudar a construir o futuro.
As viagens também são importantes. Saber se ele (a) investiu no conhecimento de outras culturas (além dos livros), se ele(a) se preocupou em saber como vivem outras pessoas em lugares diferentes é, digamos, um plus. Sinal de que ele (a) é mesmo interessado (a) em melhorar as condições de vida dos outros. O ideal é que ele conheça os rincões deste Brasil a afora, as cidades históricas de Minas e, se possível, ter ido uma ou duas vezes, no mínimo, à Europa. E ter usado o transporte público.
Antes que eu me esqueça, temos de saber também se o candidato tem alguma ocupação, um trabalho, alguma formação profissional. Veja se alguma vez na vida ele (a) já sofreu por amor, se teve que abrir mão de algo que gostava muito, enfim, se já enfrentou algumas perdas. Aproveite para saber quem são seus (os dele (a)) amigos (não valemos puxa-sacos de plantão), com quem ele anda, se diverte, etc. É bom também saber como ele trata esses amigos.
E é fundamental saber se ele acredita em algo, em alguém que seja superior a tudo que está aqui. E que se precisar ele é capaz de começar tudo de novo, do zero, simplesmente porque ele sabe que tudo na vida, principalmente a glória, é fugaz.
E se depois de tudo isto você descobrir que o candidato, além de gostar de música, ainda toca um instrumento musical e gosta de cozinhar, aí, meu caro, pode capitular. E vote, vote correndo nele (a). Se puder, até case com ele (a). Porque gente assim, vou te contar, tá difícil.
(*Enviaram-me esta crônica por email, dizendo ser de autoria de Thereza Hilcar).
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