segunda-feira, outubro 03, 2011

Dia da Rabada (Eduardo Grizendi)

(como eu consegui saciar meu desejo e meu cachorro conseguiu salvar o osso)


Foi no final de ano, naqueles dias perdidos entre o natal e o ano novo. Minha família, mulher e filhas, ficou em Minas e eu, para ganhar o pão de cada dia, voltei para enganar estes dias de trabalho.


Cheguei na Segunda-feira, e até que trabalhei razoavelmente, se considerar que viajei de ônibus e cheguei de madrugada. Ou seja, dormi em poltrona, classe econômica (não era leito, não!).


De manhã, olhei para o gato e o cachorro, que tinham ficado ali, sem ninguém praticamente de companhia. Só uma ex-empregada de meu trabalho ia todo dia dar ração para eles. O cachorro não come ração de cachorro, só de gato. O gato até que come sua ração , mas uma outra. Ou seja, é ração de gato para gato, naturalmente, e de gato para cachorro, curiosamente.


Dizer que o cachorro come ração de gato não é totalmente verdade. Ele come na falta de alguma mistura. E também come hoje, engole amanhã, mas fica enjoado cedo, cedo. E já  tinha se passado quase uma semana e eu imaginava o quanto ele estava de saco cheio da ração.


Aí veio a idéia. Passei no supermercado no final da tarde e procurei por algo que ele comesse com gosto. Que tivesse carne mas também osso para lembrá-lo que ele é um cachorro. Por que não uma rabada ?.Taí, era disto que ele precisava comer.

Escolhi a rabada. Nem pequena, nem grande, era de bom tamanho. Saí triunfante do supermercado, quase 8 horas da noite. Cheguei rapidamente em casa e logo fui preparar o seu manjar. Como estava sozinho em casa, não tinha pressa, e como ele não comia algo assim, fazia muito tempo, resolvi caprichar.

Coloquei o óleo na panela de pressão e refoguei uma cebola picadinha. Talvez eu até coma  um pedaço, pensei. Por que não ? Afinal, eu gosto muito de rabada. Deixei dourar a cebola. Temperei a rabada com sal e alho e coloquei na panela de pressão para dar uma tostada. E mexi daqui e dali, enquanto fervia, por fora, uma água para colocar. Coisas de cozinha, acelera a preparação, se você colocar a água já fervendo na panela de pressão.

Dito e feito. Rapidamente, começou a cheirar deliciosamente a rabada, na panela. Fui me envolvendo com o clima da rabada (clima, quer dizer, preparação, cheiro, cachorro, etc...). Abri um vinho tinto bom, californiano, da reserva de minha mulher, e fiquei aguardando ficar pronto, já convicto de que ia também comer da rabada.

A rabada finalmente ficou pronta. Abri a panela de pressão e senti que estava divina. Já tinha tomado metade da garrafa do vinho e a fome tinha apertado. Dei uma olhada pro cachorro, na área de fora, e senti que ele estava até adivinhando. Mas primeiro era a minha vez porque tinha sido eu que comprei e preparei a rabada.

Servi-me da rabada. Coloquei uns três ou quatro pedaços, dos graúdos, no prato. Fui prá mesa e comi, prazerosamente. Voltei à panela. Separei os ossos (as vértebras, para quem não sabe, pois a rabada é o fim da colina vertebral, ou seja, literalmente, o rabo da vaca- ou do boi). Afinal os ossos já são do cachorro.

Servi-me novamente, agora com pedaços não tão graúdos, mas nem por isto menos saborosos. Antes de voltar à mesa, resolvi servir os ossos da primeira leva para o cachorro. Nem olhei direto para ele, com uma pontinha de vergonha. Afinal , a rabada era para ser toda dele.

Comi a segunda leva. Continuava excelente. Tomei mais vinho. Sobrou mais ossos. E servi o cachorro os ossos da segunda leva.

Servi-me da terceira e última leva Não tinha sobrado rabada na panela, nem sequer aqueles cotocos que mesmos os maiores rabadeiros até desprezam. Comi a terceira e última leva. Tomei o último gole do vinho. E fui servir o cachorro, a ultima leva (de ossos, naturalmente), convicto que cachorro adora mesmo é osso. Osso de rabada é bom prá cachorro!

Que ceia, que nada ! Final do ano, o melhor da festa foi a rabada do meu cachorro.

domingo, outubro 02, 2011

Prazer de amar (Cristiane Campos)

Fecho os olhos.
Lembro-me do prazer de amar.
Uma onda de calor percorre meu corpo.
Meus pelos se arrepiam.

Abro os olhos.
Realidade.
Corpos que não se entralaçam.
Irmandade.

Vivo sem ter o prazer de amar.

quarta-feira, setembro 28, 2011

Retrato falado... Esta história, a Rede Globo perdeu... (Cristiane Campos)

Blog de Leila Pinheiro me inspirou a contar esta história.

Possuo uma cadela vira-lata, branca com manchas bege, chamada Menina.


A Menina é uma cadelinha prá lá de sem vergonha: basta olhar prá algum cachorro, que já está prenhe de novo! Para se ter uma idéia, sua última prenhez foi de um pincher, "desse tamanhinho", que não sei como conseguiu cruzar com ela e o resultado dessa empreitada foi uma ninhada com 4 cachorrinhos, sendo que 2 nasceram mortos. As duas que sobreviveram foram batizadas de Branquinha e Morena. A Branquinha, saiu à mãe: toda branca, com manchas beges, mas com corpinho de pincher. A Morena saiu ao pai: toda marrom, com o corpinho da mãe (tipo Basset).


Como toda avó que se preze, achava minhas "netinhas" as coisas mais fofas do mundo. Faziam um sucesso danado aqui na quadra: todos brincavam com elas, mas ninguém queria levá-las para casa. Imagine eu, em um apartamento, com 3 cachorras! Amanhecia e anoitecia lavando área de serviço...


Apesar de todo o amor que eu sentia pelas minhas "netinhas", já estava esgotada! Além da minha jornada de trabalho normal, ainda tinha o 2º tempo em casa e a prorrogação com as netinhas... Era muito trabalho para uma pessoa só. Até a Menina, que era a mãe, já estava exausta!


Decidi, então, que já era hora de dar as "netinhas". Em uma de minhas saídas para passear com as cachorras, encontrei-me com uma senhora, dona de um "outro pincher", que ficou alucinada pela Branquinha (minha favorita!). Conversa vai, conversa vem, disse-me que queria uma fêmea para fazer companhia ao seu solitário cachorrinho. 

Sensibilizada com a solteirice do seu cachorro, concordei em dar a Branquinha àquela senhora e marquei um horário para levá-la ao seu apartamento, a fim de que a Menina não sentisse a dor de vê-la partir...


Conforme combinado, fui ao apartamento daquela senhora entregar a Branquinha. A coitadinha tremia mais do que "vara verde" e olhava para mim com aquele ar de "não quero ir embora"... Dei a cachorrinha com o coração partido e com vontade de estrangular a Menina! Por que ficar fazendo filho toda hora e eu ter de ser a carrasca e dá-los?


Voltei para a casa cabisbaixa, com o coração partido, lembrando daquele olhar lânguido da Branquinha me implorando para não dá-la... Ô dó...


Como a vida segue em frente, fui trabalhar. No final da tarde, recebo uma ligação da minha enteada: - Cris, veio um rapaz aqui em casa devolver a Branquinha...


Ai, meu Deus, pensei... Já estava me acostumando com a idéia da doação! Lá voltou a cachorrinha para casa, de novo!


Como iria resolver essa questão? Ninguém queria as coitadinhas - nem de graça, nem pagando! Era só bilú, bilú e bye bye!


Cansada de tanta cachorra e tanta limpeza, liguei para minha mãe em Goiânia, pedindo para ela arrumar duas pessoas que gostassem de cachorro para que pudéssemos dar as duas... Minha mãe então disse para levá-las no final de semana, que ela daria um jeito de arrumar alguém que ficasse com elas.


Respirei aliviada.... Resolveria o caso das duas "menininhas" de uma só vez.


Como iria para Goiânia em um Santana velhinho (de apenas 18 anos) que me fora emprestado pelo meu pai, achei por bem trocar a bateria do carro na sexta-feira, para que nada de ruim acontecesse no meio do caminho.


No sábado, acordei toda animada e coloquei as minhas netinhas no carro. Meu marido, meu filho e minhas enteadas iriam no outro carro, pois eu deixaria em Goiânia, além das netinhas, aquele carrinho velho que tanto me servira, mas que já estava precisando de alguns consertos.


Bem, a viagem seria uma aventura, já que somente um vidro do carro - o do motorista - abria. E quem mora no Centro-Oeste sabe o calor que faz durante o dia...


Com Branquinha e Morena a postos, saíram os dois carros rumo a Goiânia. Após alguns poucos quilômetros, perto de Santo Antonio Descoberto, recebo uma ligação de meu marido, dizendo que voltaria a Brasilia, pois havia esquecido - nada menos  - do que a mala em nossa residência... Disse a ele que voltasse, pois eu seguiria viagem com as menininhas e depois nos encontraríamos em Goiânia.


(Vou abrir um parêntese nesta história: a minha cadela, a Menina, morre de enjôo ao viajar de carro. Nada fica em seu estômago. Nem Dramin segura a coitada. Viaja vomitando o tempo todo.)


Alguns quilômetros após Santo Antonio Descoberto, aconteceu o que eu já previa: as duas, Branquinha e Morena, começaram a enjoar. As duas estavam deitadinhas no banco de trás do carro e começaram a vomitar, vomitar...


Eu, dirigindo, estava quase enjoando também... Pudera, o carro só abria o vidro do motorista, pois os outros estavam quebrados. Imaginem só minha situação: com as duas vomitando, e eu tendo que aguentar firme o calor e o cheiro que chegavam até mim.


Supunha eu que as duas já tivessem enjoado tudo o que tinham direito, quando a Branquinha passou para o banco da frente (do carona) e logo em seguida, passou para o meu colo e terminou o seu serviço ali, bem na minha perna.... Arghhhhhhh


Pensei, cá com os meus botões, que era hora de apertar o acelerador e chegar o quanto antes em Goiânia. Nem bem acabei de pensar, o inevitável aconteceu de novo: a Morena, que estava no banco de trás, colocou as patinhas no meu banco e vapt! vomitou bem no meu ombro.... Arghhhhhhh

Acreditava eu que já havia passado por todas as provações, mas estava ligeiramente enganada. Faltavam mais ou menos uns 5 km para avistar o posto da Polícia Rodoviária, que fica bem na entrada da cidade, quando O CARRO QUEBROU! 


Minha vontade era de sentar e chorar... A situação era de dar dó: eu, toda vomitada naquele carro calorento; as "netinhas", de tanto passarem mal, estavam quase desmaiadas, de tão fraquinhas!


Desci do carro, com o sol a pino, peguei as duas no colo e tirei o celular da bolsa, para avisar o meu marido que eu estava naquela situação lastimável na beira da estrada.


Tchan, tchan, tchan, tchan... Parece até brincadeira, mas o celular NÃO PEGOU! Me encostei no carro, olhei para as duas e quando pensava no que fazer, parou um carro... Um rapaz desceu, se identificou e chamou um guincho para mim. Apesar dele ter sido super atencioso, tratei de despachá-lo logo, tamanho era o meu "perfume". Fiquei aproximadamente uma hora aguardando o guincho. Quando esperava o guincho, adivinhe quem eu vejo? Meu marido, que quase passa na estrada sem me avistar... Quando ele acabou de estacionar, o guincho chegou.


Fala sério... esta história não era digna de ir para o Retrato Falado?


Pena que o quadro acabou...

(esta história foi vivida por mim em 2004. A minha cadelinha, Menina, infelizmente já morreu e é para ela que faço esta homenagem).

Chico Buarque - Tanto Mar

segunda-feira, abril 04, 2011

“De tanto ver crescer a INJUSTIÇA, de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos MAUS, o homem chega a RIR-SE da honra, DESANIMAR_SE de justiça e TER VERGONHA de ser honesto” (Rui Barbosa)

segunda-feira, fevereiro 28, 2011

"Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito." (Machado de Assis)

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Filho Adotivo (Composição: Arthur Moreira e Sebastião Ferreira da Silva)

Com sacrifício
Eu criei meus sete filhos
Do meu sangue eram seis
E um peguei com quase um mês
Fui viajante
Fui roceiro, fui andante
E prá alimentar meus filhos
Não comi prá mais de vez...

Sete crianças
Sete bocas inocentes
Muito pobres, mas contentes
Não deixei nada faltar
Foram crescendo
Foi ficando mais difícil
Trabalhei de sol a sol
Mas eles tinham que estudar...

Meu sofrimento
Ah! meu Deus, valeu a pena
Quantas lágrimas chorei
Mas tudo foi com muito amor
Sete diplomas
Sendo seis muito importantes
Que as custas de uma enxada
Conseguiram ser doutor...

Hoje estou velho
Meus cabelos branqueados
O meu corpo está surrado
Minhas mãos nem mexem mais
Uso bengala
Sei que dou muito trabalho
Sei que às vezes atrapalho
Meus filhos até demais...

Passou o tempo
E eu fiquei muito doente
Hoje vivo num asilo
E só um filho vem me ver
Esse meu filho
Coitadinho, muito honesto
Vive apenas do trabalho
Que arranjou para viver...

Mas Deus é grande
Vai ouvir as minhas preces
Esse meu filho querido
Vai vencer, eu sei que vai
Faz muito tempo
Que não vejo os outros filhos
Sei que eles estão bem
Não precisam mais do pai...

Um belo dia
Me sentindo abandonado
Ouvi uma voz bem do meu lado
Pai eu vim prá te buscar
Arrume as malas
Vem comigo pois venci
Comprei casa e tenho esposa
E o seu neto vai chegar...

De alegria eu chorei
E olhei pr'o céu
Obrigado meu Senhor
A recompensa já chegou
Meu Deus proteja
Os meus seis filhos queridos
Mas foi meu filho adotivo
Que a este velho amparou...

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Viver dói (minha autoria)

Que dor é essa,
que machuca o coração?
Que saudade é essa,
De um tempo que não vivi?


Que lágrimas são essas,
que me enchem de emoção?
Que olhar é esse,
que nunca percebi?

Foi-se a dor,
foi-se a saudade,
foram-se as lágrimas
foi-se o olhar...

Viver dói.

domingo, fevereiro 20, 2011

Trecho de "A festa no Céu" (Folclore Brasileiro)

"Conta-se, lá pras bandas do brejo, que Nossa Senhora, com pena do infeliz sapo, juntou todos os pedaços do seu corpo esparramado nas pedras e o sapo viveu de novo. Aprendeu uma sábia lição: Nosso verdadeiro inimigo está em nós mesmos. Não são os grandes planos que dão certo, são os pequenos detalhes".

A descoberta do amor (Mahatma Gandhi)









Ensaia um sorriso
e oferece-o a quem não teve nenhum.
Agarra um raio de sol
e desprende-o onde houver noite.
Descobre uma nascente
e nela limpa quem vive na lama.
Toma uma lágrima
e pousa-a em quem nunca chorou.
Ganha coragem
e dá-a a quem não sabe lutar.
Inventa a vida
e conta-a a quem nada compreende.
Enche-te de esperança
e vive á sua luz.
Enriquece-te de bondade
e oferece-a a quem não sabe dar.
Vive com amor
e fá-lo conhecer ao Mundo.

Saudade da Menina...



Cachorros não são eternos na nossa vida,
mas eles fazem nossas vidas eternas.
(Roger Caras)

Andrea Bocelli & Katherine Mc Phee - The Prayer

Zumbis e Zumbidos III (Antonio Brás Constante)

Alguns temas são como certos monstros que assolam nosso imaginário, quando se acha que o assunto está morto e enterrado ele reaparece repaginado a nos atormentar de novo. Desta vez, o foco são os famigerados chefes. Temos por exemplo, o chefe zumbi. Ele se arrasta pelas empresas, é pegajoso, não sabe se expressar, e quando aparece algum problema se finge de morto, suga seu cérebro na solução de problemas, mas leva o crédito pelo trabalho que você fez. Outro tipo de chefe é o chefe vampiro, que vive morcegando no serviço. Adora tirar o sangue dos funcionários, voa para longe quando tem que resolver alguma coisa, e como todo bom vampiro, vai direto na jugular se por desgraça você comete um erro, dizendo que vai querer o seu pescoço se você não resolver o problema. Não podemos esquecer o chefe múmia, um verdadeiro clássico administrativo. Vive enrolado nas próprias funções, administra a empresa como se vivesse no tempo dos faraós, engessado em burocracias e rotinas sem sentido. Ochefe homem invisível é facil de perceber, já que sempre some quando uma dificuldade aparece. Mas quando você está resolvendo algum assunto pessoal, ou tomando cafezinho, ele reaparece bem atrás de você, sempre com cara de quem não te paga para ficar matando tempo. Já o chefe demônio é aquela figura que parece sempre disposta a transformar sua vida em um inferno. Nunca ouvimos ele falando calmamente, é sempre cuspindo fogo pela boca. Parece que tem o diabo no corpo, a eternidade não existe em seu dicionário visto estar sempre querendo que o serviço seja feito pra ontem. Nas mãos dele você sempre acaba pagando seus pecados e comendo o pão que o diabo amassou. Você também deve conhecer o chefe abominável homem das neves, com seu jeito frio de gerenciar equipes. Te coloca em uma fria atrás da outra. Gosta de deixar rastros por onde passa, dizendo que seus feitos são uma lenda, mesmo que ninguém tenha provas disso. O chefe lobisomem é aquele que até engana parecendo gente, mas no fundo é um cachorro. Um animal corporativo selvagem,  sempre pronto a estraçalhar quem fique em seu caminho. O mérito é sempre dele e ele que não larga ou compartilha esse osso por nada desse mundo.O chefe fantasma tem mesa, sala, um contra-cheque polpudo mas não trabalha nem aparece no serviço. Geralmente encontramos este tipo de chefe em repartições públicas. Enfim, neste mundo monstruoso em que vivemos, devemos torcer para ter como chefe o SHREK, que é um monstro na hora de lutar por sua equipe e que dispõe de todas as qualidades que um chefe deveria ter.

sábado, fevereiro 19, 2011

O Som do Coração

Quando eu decidi escrever este blog, tornei-o impessoal. Acho que já me referi a isso em alguma postagem. Mas hoje não posso deixar de fazer um comentário.

Acabei de assistir o filme "O Som do Coração" (pela segunda vez). E como da primeira vez, voltei a me emocionar. O filme, que trata da história de um menino abandonado e seu amor pela música, me tocou profundamente.

Não sei se ainda terei lágrimas para assistí-lo novamente, mas recomendo. É um filme que merece ser visto e revisto, por quem tem afeto e música no coração.

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

"Para sermos felizes até certo ponto é preciso que tenhamos sofrido até o mesmo ponto". (Edgar Allan Poe)

Annabel Lee (Edgar Allan Poe - traduzido por Fernando Pessoa)

Foi há muitos e muitos anos já,
Num reino de ao pé do mar.
Como sabeis todos, vivia lá
Aquela que eu soube amar;
E vivia sem outro pensamento
Que amar-me e eu a adorar.

Eu era criança e ela era criança,
Neste reino ao pé do mar;
Mas o nosso amor era mais que amor --
O meu e o dela a amar;
Um amor que os anjos do céu vieram
a ambos nós invejar.

E foi esta a razão por que, há muitos anos,
Neste reino ao pé do mar,
Um vento saiu duma nuvem, gelando
A linda que eu soube amar;
E o seu parente fidalgo veio
De longe a me a tirar,
Para a fechar num sepulcro
Neste reino ao pé do mar.

E os anjos, menos felizes no céu,
Ainda a nos invejar...
Sim, foi essa a razão (como sabem todos,
Neste reino ao pé do mar)
Que o vento saiu da nuvem de noite
Gelando e matando a que eu soube amar.

Mas o nosso amor era mais que o amor
De muitos mais velhos a amar,
De muitos de mais meditar,
E nem os anjos do céu lá em cima,
Nem demônios debaixo do mar
Poderão separar a minha alma da alma
Da linda que eu soube amar.

Porque os luares tristonhos só me trazem sonhos
Da linda que eu soube amar;
E as estrelas nos ares só me lembram olhares
Da linda que eu soube amar;
E assim 'stou deitado toda a noite ao lado
Do meu anjo, meu anjo, meu sonho e meu fado,
No sepulcro ao pé do mar,
Ao pé do murmúrio do mar.

sábado, fevereiro 12, 2011

Meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê! (Florbela Espanca)

sábado, setembro 25, 2010

Sutilmente (Skank)

E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
Quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
Quando eu estiver fogo
Suavemente se encaixe

E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
E quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
E quando eu estiver bobo
Sutilmente disfarce
Mas quando eu estiver morto
Suplico que não me mate, não
Dentro de ti, dentro de ti

Mesmo que o mundo acabe, enfim
Dentro de tudo que cabe em ti
Mesmo que o mundo acabe, enfim
Dentro de tudo que cabe em ti

E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
E quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
E quando eu estiver bobo
Sutilmente disfarce
Mas quando eu estiver morto
Suplico que não me mate, não
Dentro de ti, dentro de ti

Mesmo que o mundo acabe, enfim
Dentro de tudo que cabe em ti
Mesmo que o mundo acabe, enfim
Dentro de tudo que cabe em ti
Mesmo que o mundo acabe, enfim
Dentro de tudo que cabe em ti
Mesmo que o mundo acabe, enfim
Dentro de tudo que cabe em ti.

Elis Regina - "É Com Esse Que Eu Vou" -Ensaio - MPB Especial

domingo, julho 11, 2010

Como Dizia Meu Pai (Fernando Sabino)



Já se tornou um hábito meu, em meio a uma conversa, preceder algum comentário por uma introdução:

— Como dizia meu pai...

Nem sempre me reporto a algo que ele realmente dizia, sendo apenas uma maneira coloquial de dar ênfase a alguma opinião.

De uns tempos para cá, porém, comecei a perceber que a opinião, sem ser de caso pensado, parece de fato corresponder a alguma coisa que Seu Domingos costumava dizer. Isso significará talvez — Deus queira — insensivelmente vou me tornando com o correr dos anos cada vez mais parecido com ele. Ou, pelo menos, me identificando com a herança espiritual que dele recebi.

Não raro me surpreendo, antes de agir, tentando descobrir como ele agiria em semelhantes circunstâncias, repetindo uma atitude sua, até mesmo esboçando um gesto seu. Ao formular uma idéia, percebo que estou concebendo, para nortear meu pensamento, um princípio que se não foi enunciado por ele, só pode ter sido inspirado por sua presença dentro de mim.

— No fim tudo dá certo...

Ainda ontem eu tranqüilizava um de meus filhos com esta frase, sem reparar que repetia literalmente o que ele costumava dizer, sempre concluindo com olhar travesso:

— Se não deu certo, é porque ainda não chegou no fim.

Gosto de evocar a figura mansa de Seu Domingos, a quem chamávamos paizinho, a subir pausadamente a escada da varanda de nossa casa, todos os dias, ao cair da tarde, egresso do escritório situado no porão. Ou depois do jantar, sentado com minha mãe no sofá de palhinha da varanda, como namorados, trocando notícias do dia. Os filhos guardavam zelosa distância, até que ela ia aos seus afazeres e ele se punha à disposição de cada um, para ouvir nossos problemas e ajudar a resolvê-los. Finda a última audiência, passava a mão no chapéu e na bengala e saía para uma volta, um encontro eventual com algum amigo. Regressava religiosamente uma hora depois, e tendo descido a pé até o centro, subia sempre de bonde. Se acaso ainda estávamos acordados, podíamos contar com o saquinho de balas que o paizinho nunca deixava de trazer.

Costumava se distrair realizando pequenos consertos domésticos: uma bóia de descarga, a bucha de uma torneira, um fusível queimado. Dispunha para isso da necessária habilidade e de uma preciosa caixa de ferramentas em que ninguém mais podia tocar. Aprendi com ele como é indispensável, para a boa ordem da casa, ter à mão pelo menos um alicate e uma chave de fenda. Durante algum tempo andou às voltas com o velho relógio de parede que fora de seu pai, hoje me pertence e amanhã será de meu filho: estava atrasando. Depois de remexer durante vários dias em suas entranhas, deu por findo o trabalho, embora ao remontá-lo houvesse sobrado umas pecinhas, que alegou não fazerem falta. O relógio passou a funcionar sem atrasos, e as batidas a soar em horas desencontradas. Como, aliás, acontece até hoje.

Tinha por hábito emitir um pequeno sopro de assovio, que tanto podia ser indício de paz de espírito como do esforço para controlar a perturbação diante de algum aborrecimento.

— As coisas são como são e não como deviam ser. Ou como gostaríamos que fossem.

Este pronunciamento se fazia ouvir em geral quando diante de uma fatalidade a que não se poderia fugir. Queria dizer que devemos nos conformar com o fato de nossa vontade não poder prevalecer sobre a vontade de Deus - embora jamais fosse assim eloqüente em suas conclusões. Estas quase sempre eram, mesmo, eivadas de certo ceticismo preventivo ante as esperanças vãs:

— O que não tem solução, solucionado está.

E tudo que acontece é bom — talvez não chegasse ao cúmulo do otimismo de afirmar isso, como seu filho Gerson, mas não vacilava em sustentar que toda mudança é para melhor: se mudou, é porque não estava dando certo. E se quiser que mude, não podendo fazer nada para isso, espere, que mudará por si.

Às vezes seus princípios pareciam confundir-se com os da própria sabedoria mineira: esperar pela cor da fumaça, não dar passo maior do que as pernas, dormir no chão para não cair da cama. Os dele eram mais singelos:

— Mais vale um apertinho agora que um apertão o resto da vida.

— Negócio demorado acaba não saindo.

— Dinheiro bom em coisa boa.

— Antes de entrar, veja por onde vai sair.

Um dia me disse, ao me surpreender tentando armar um brinquedo qualquer com mãos desajeitadas:

— Meu filho, tudo que é bem feito se faz com os dedos, não com as mãos.

Tenho tido ocasião ao longo da vida de observar como é procedente este seu ensinamento. A mão é grossa, pesada, insensível. Se não fossem os dedos de nada serviria, a não ser para dar bofetadas. Os dedos são refinados, sensitivos, e a eles devemos tudo o que é bem feito e acabado: do mais requintado trabalho manual às mais complicadas operações, da mais fina sensação do tacto à mais terna das carícias.

— Se o cafezinho foi bom, melhor não aceitar o segundo: será sempre pior que o primeiro.

Como tudo mais nessa vida: uma viagem, uma mulher: não repetir, pois a emoção jamais será a mesma da primeira vez. E não desanimar, pois se nascemos nus e estamos vestidos, já estamos no lucro. Nada neste mundo é cem por cento perfeito. Se contamos com mais de cinqüenta por cento, também já estamos no lucro. Quando conseguimos o que é apenas bom, naturalmente devemos continuar aspirando o melhor, se possível - mas perfeição absoluta, só Deus. E creio que Seu Domingos, homem íntegro, reto e temente a Deus, hoje em Sua companhia, não consideraria sacrilégio comentar, naquele seu jeito ladino:

 — E assim mesmo, olhe lá...

Seus conselhos eram de tamanha simplicidade que tinham a força de provérbios nascidos da voz do povo: nada como um dia depois do outro, um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar, tudo tem seu tempo. Fosse ele influenciado por leituras piedosas, poderíamos mesmo detectar, aqui e ali, vestígios de inspiração bíblica: tempo de semear, tempo de colher...

— É o que nos acontece.

Há uma diferença sutil entre admitir que as coisas são como são, não como deviam ser, e reconhecer que é o que nos acontece. Aqui, o comentário não pretendia refletir a impossibilidade de modelar (com os dedos) os fatos de acordo com a nossa vontade, mesmo que esta esteja certa. Exprime antes a humilde aceitação da nossa precária condição humana, como frágeis criaturas de Deus. Procura se solidarizar com a desgraça alheia, como a dizer que também estamos sujeitos a ela, somos todos irmãos na mesma atribulação. É o que nos acontece.

Portanto, alegremo-nos! Uma amiga minha, que não o conheceu, busca nele se inspirar quando afirma, sempre que se vê diante de algum contratempo:

— Antes de mais nada, fica estabelecido que ninguém vai tirar o meu bom humor.

Acabei levando esta disposição de minha amiga às últimas conseqüências: o mais importante é não perder a capacidade de rir de mim mesmo. Como Cartola e Carlos Cachaça naquele samba, às vezes dou gargalhadas pensando no meu passado.. . E cada vez acredito mais no ensinamento recebido não sei se de meu pai ou diretamente de Confúcio, segundo o qual há várias maneiras de realizar um desejo, sendo uma delas renunciar a ele. Como adverte outro sábio, se desejamos obstinadamente alguma coisa, é melhor tomar cuidado, porque pode nos suceder a infelicidade de consegui-la.

Tudo isso que de uns tempos para cá vem me vem ocorrendo, às vezes inconscientemente, como legado de meu pai, teve seu coroamento há poucos dias, quando eu ia caminhando distraído pela praia. Revirava na cabeça, não sei a que propósito, uma frase ouvida desde a infância e que fazia parte de sua filosofia: não se deve aumentar a aflição dos aflitos. Esta máxima me conduziu a outra, enunciada por Carlos Drummond de Andrade no filme que fiz sobre ele, a qual certamente Seu Domingos perfilharia: não devemos exigir das pessoas mais do que elas podem dar. De repente fui fulminado por uma verdade tão absoluta que tive de parar, completamente zonzo, fechando os olhos para entender melhor. No entanto era uma verdade evangélica, de clareza cintilante como um raio de sol, cheguei a fazer uma vênia de gratidão a Seu Domingos por me havê-la enviado:

Só há um meio de resolver qualquer problema nosso: é resolver primeiro o do outro.

Com o tempo, a cidade foi tomando conhecimento do seu bom senso, da experiência adquirida ao longo de uma vida sem maiores ambições: Seu Domingos, além de representante de umas firmas inglesas, era procurador de partes — solene designação para uma atividade que hoje talvez fosse referida como a de um despachante. A princípio os amigos, conhecidos, e depois até desconhecidos passaram a procurá-lo para ouvir um conselho ou receber dele uma orientação. Era de se ver a romaria no seu escritório todas as manhãs: um funcionário que dera desfalque, uma mulher abandonada pelo marido, um pai agoniado com problemas do filho — era gente assim que vinha buscar com ele alívio para a sua dúvida, o seu medo, a sua aflição. O próprio Governador, que não o conhecia pessoalmente, certa vez o consultou através de um secretário, sobre questão administrativa que o atormentava. Não se falando nos filhos: mesmo depois de ter saído de casa, mais de uma vez tomei trem ou avião e fui colher uma palavra sua que hoje tanta falta me faz.

Resta apenas evocá-la, como faço agora, para me servir de consolo nas horas más. No momento, ele próprio está aqui a meu lado, com o seu sorriso bom.


(Publiquei esta crônica em homenagem ao meu amor, que assim como seu Domingos, tem sempre uma palavra sábia e conserta tudo o que vê pela frente! Ah!  E não anda sem sua caixa de ferramentas...)

quinta-feira, julho 01, 2010

Existe um tempo próprio para tudo,

E há uma época para cada coisa debaixo do céu:
Um tempo para nascer e um tempo para morrer;

Um tempo para plantar e um tempo para colher o que se semeou;
Um tempo para matar, um tempo para curar as feridas;

Um tempo para destruir e outro para reconstruir;
Um tempo para chorar e um tempo para rir;

Um tempo para se lamentar e outro para dançar de alegria;
Um tempo para espalhar pedras, um tempo para juntá-las;

Um tempo para abraçar, e um tempo para afastar-se;
Um tempo para procurar e outro para perder;

Um tempo para armazenar e um para distribuir;
Um tempo para rasgar e outro para coser;

Um tempo para estar calado e outro tempo para falar;
Um tempo para amar, e um tempo para odiar;

Um tempo para a guerra, e um tempo para a paz.
 
(Rei Salomão)

terça-feira, junho 29, 2010

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida." 

Clarice Lispector

domingo, junho 27, 2010

Expressões gaudérias (Domínio Público)

Afiado como navalha de barbeiro caprichoso.
• Agarrado como carrapato em culhão de touro.
• Apertado como rato em guampa.
• Assanhada como solteirona em festa de casamento.
• Atirado como interesse de viúva.
• Aumentar como barriga de prenha.
• Bater mais que brigadiano na mulher.
• Brilhar como ouro de libra.
• Bueno como namoro no começo.
• Buliçoso que nem mico de viúva.
• Cair bem como chuva em roça de milho.
• Calmo que nem água de poço.
• Cara amarrada como pacote de despacho.
• Causar alvoroço que nem mata-mosquito em convento.
• Chiar como uma locomotiva no cio.
• Cobiçada como anca de viúva nova e bonita.
• Comer mais que remorso.
• Como tosa de porco: muito grito e pouca lã.
• Contente como cusco de cozinheira.
• Contrariado como gato a cabresto.
• Dá mais que pereba em moleque.
• De boca aberta que nem burro que comeu urtiga.
• Devagar como enterro de a pé.
• Dormir atirado que nem lagarto.
• Dormir que nem sapo morto estirado nos arreios.
• Encardido como peleia de caudilho.
• Encordoado como teta de porca.
• Enfeitado como bidê de china.
• Engraçado como gorda botando as calça.
• Esfarrapado que nem poncho de gaudério.
• Espalhar-se como pó de mangueira em pé de vento.
• Esparramado como dedo de pé que nunca entrou em bota.
• Esperto que nem gringo de venda.
• Extraviado que nem chinelo de bêbado.
• Faceiro como mosca em rolha de xarope.
• Feia como mulher de cego.
• Feliz que nem lambari de sanga.
• Fino e comprido como pio de pinto.
• Firme que nem prego em polenta.
• Frouxo como peido em bombacha.
• Furioso como gato embretado em cano de bota.
• Gordo e lustroso como gato de bolicheiro.
• Gosmento como cuspida de bêbado.
• Grosso como rolha pra poço.
• Grudado como bosta em tamanco.
• Judiado como filhote de passarinho em mão de piá.
• Louco como galinha agarrada pelo rabo.
• Mais à vontade que bugio em mato de boa fruta.
• Mais alto que cavalo de oficial.
• Mais amontoado que uva em cacho.
• Mais angustiado que barata de ponta-cabeça.
• Mais apertado que nó de soga em dia de chuva.
• Mais apressado que cavalo de carteiro.
• Mais arisca do que china que não quer dar.
• Mais assustado que véia em canoa.
• Mais atirado pra trás que pica-pau em tronqueira.
• Mais atirado que alpargata em cancha de bocha.
• Mais atrasado que bola de porco.
• Mais baixo que vôo de marreca choca.
• Mais bonita que laranja de amostra.
• Mais branco que perna de freira.
• Mais caro que argentina nova na zona.
• Mais ciumenta que mulher de tenente.
• Mais complicado que receita de creme Assis Brasil.
• Mais comprido que esperança de pobre.
• Mais comprido que suspiro em velório.
• Mais conhecido que a reza do padre-nosso.
• Mais conhecido que parteira de campanha.
• Mais curto que coice de porco.
• Mais delgado que cachaço emprestado.
• Mais demorado que enterro de rico.
• Mais desconfiado que cego que tem amante.
• Mais difícil que nadar de poncho.
• Mais duro que pau de preso.
• Mais eficiente que japonês na roça.
• Mais encolhido que tripa grossa na brasa.
• Mais enfeitado que burro de cigano em festa.
• Mais enfiado que cueca em bunda de gordo.
• Mais engraxado que telefone de açougueiro.
• Mais enrolado que lingüiça de venda.
• Mais entravado que carteira em bolso de sovina.
• Mais escandaloso que relincho de burro chorro.
• Mais faceiro que gordo de camiseta.
• Mais faceiro que guri de bombacha nova
• Mais fácil que fazer falar um rádio.
• Mais fechado que baú de solteirona.
• Mais fedorento que arroto de corvo.
• Mais feio que indigestão de torresmo.
• Mais fino que assobio de papudo.
• Mais firme que catarro em parede.
• Mais forte que peido de burro atolado.
• Mais gostoso que beijo de prima.
• Mais grosso que cintura de sapo.
• Mais importante que o irmão da rapariga do cabo.
• Mais inútil que buzina em avião.
• Mais inútil que mijar em incêndio.
• Mais ligado que rádio de preso.
• Mais ligeiro que tainha de açude.
• Mais linda que camisola de noiva.
• Mais magro que guri com solitária.
• Mais medroso que cascudo atravessando galinheiro.
• Mais metido que piolho em costura.
• Mais nervoso que anão em comício.
• Mais nojento que mocotó de ontem.
• Mais perdido que surdo em bingo.
• Mais perfumado que mão de barbeiro.
• Mais pesado que pastel de batata.
• Mais prestimosa que mãe de noiva.
• Mais quieto que guri cagado.
• Mais sério que guri mijado.
• Mais triste que último dia de rodeio.
• Mais usado que pronome oblíquo em conversa de professor.
• Mais vaidoso que guri em chineiro.
• Mais velho que mijar em arco.
• Pelado que nem sovaco de perneta.
• Pior que a filha casar com nordestino.
• Que nem carro de funebreiro: só leva.
• Que nem serra elétrica, não pode ver pau de pé.
• Quem revela a fonte é água mineral.
• Sofrer como joelho de freira na Semana Santa.
• Solito como galinha em gaiola de engorde.
• Tranqüilo e sereno que nem baile de moreno.
• Virar-se mais que minhoca na cinza.
• Vivo como cavalo de contrabandista.

sexta-feira, junho 18, 2010

In memorian

"Para temperamentos nostálgicos, em geral quebradiços, pouco flexíveis, viver sozinho é um duríssimo castigo" 

José Saramago

segunda-feira, junho 14, 2010

"Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem muitas vezes enquanto viverem,
têm a eternidade da natureza."

Pablo Neruda

segunda-feira, maio 31, 2010

Caso de Injustiça (Saulo de Albuquerque)

Quando adolescente, o poeta Carlos Drummond de Andrade foi expulso do colégio onde estudava. A razão alegada: "insubordinação mental". O fato: o jovem ganhara uma nota muito alta numa redação de Português, mas o professor, ao lhe devolver o texto avaliado, disse-lhe que ele talvez não a merecesse. O rapaz insistiu, então, para que lhe fosse atribuída uma nota conforme seu merecimento. O caso foi levado ao diretor da escola, que optou pela medida extrema. Confessa o poeta que esse incidente da juventude levou-o a desacreditar por completo, e em definitivo, da justiça dos homens.

Está evidente que a tal da "insubordinação mental" do rapaz não foi um desrespeito, mas uma reação legítima à restrição estapafúrdia do professor quanto ao mérito que este mesmo, livremente, já consignara. O mestre agiu com a pequenez dos falsos benevolentes, que gostam de transformar em favor pessoal o reconhecimento do mérito alheio. Protestando contra isso, movido por justa indignação, o jovem discípulo deu ao mestre uma clara lição de ética: reclamou pelo que era mais justo. Em vez de envergonhar-se, o professor respondeu com a truculência dos autoritários, que é o reduto da falta de razão. E acabou expondo o seu aluno à experiência corrosiva da injustiça, que gera ceticismo e ressentimento.


A "insubordinação mental", nesse caso, bem poderia ter sido entendida como uma legítima manifestação de amor-próprio, que não pode e não deve subordinar-se à agressividade dos caprichos alheios. Além disso, aquela expressão deixa subentendido o mérito que haveria numa "subordinação mental", ou seja, na completa rendição de uma consciência a outra. O que se pode esperar de quem se rege pela cartilha da completa subserviência moral e intelectual? Não foi contra esta que o jovem se rebelou? Por que aceitaria ele deixar-se premiar por uma nota alta a que não fizesse jus?


Muitas vezes um fato que parece ser menor ganha uma enorme proporção. Todos já sentimos, nos detalhes de situações supostamente irrelevantes, o peso de uma grande injustiça. A questão do que é ou do que não é justo, longe de ser tão-somente um problema dos filósofos ou dos juristas, traduz-se nas experiências mais rotineiras. O caso do jovem poeta ilustra bem esse gosto amargo que fica em nossa boca, cada vez que somos punidos por invocar o princípio ético da justiça.

quinta-feira, julho 30, 2009

Receita de Dona Cacilda

Dona Cacilda é uma senhora de 92 anos, miúda, e tão elegante, que todo dia às 08 da manhã ela já está toda vestida, bem penteada e discretamente maquiada, apesar de sua pouca visão.

E hoje ela se mudou para uma casa de repouso: o marido, com quem ela viveu 70 anos, morreu recentemente, e não havia outra solução.

Depois de esperar pacientemente por duas horas na sala de visitas, ela ainda deu um lindo sorriso quando a atendente veio dizer que seu quarto estava pronto. Enquanto ela manobrava o andador em direção ao elevador, dei uma descrição do seu minúsculo quartinho, inclusive das cortinas floridas que enfeitavam a janela.

Ela me interrompeu com o entusiasmo de uma garotinha que acabou de ganhar um filhote de cachorrinho.

- Ah, eu adoro essas cortinas...
- Dona Cacilda, a senhora ainda nem viu seu quarto... Espera um pouco...
- Isto não tem nada a ver, ela respondeu, felicidade é algo que você decide por princípio. Se eu vou gostar ou não do meu quarto, não depende de como a mobília vai estar arrumada... Vai depender de como eu preparo minha expectativa.

E eu já decidi que vou adorar. É uma decisão que tomo todo dia quando acordo.

Sabe, eu posso passar o dia inteiro na cama, contando as dificuldades que tenho em certas partes do meu corpo que não funcionam bem...
Ou posso levantar da cama agradecendo pelas outras partes que ainda me obedecem.

- Simples assim?
- Nem tanto; isto é para quem tem autocontrole e exigiu de mim um certo 'treino' pelos anos a fora, mas é bom saber que ainda posso dirigir meus pensamentos e escolher, em consequência, os sentimentos.

Calmamente ela continuou:
- Cada dia é um presente, e enquanto meus olhos se abrirem, vou focalizar o novo dia, mas também as lembranças alegres que eu guardei para esta época da vida. A velhice é como uma conta bancária: você só retira aquilo que guardou. Então, meu conselho para você é depositar um monte de alegrias e felicidades na sua Conta de Lembranças. E, aliás, obrigada por este seu depósito no meu Banco de Lembranças. Como você vê, eu ainda continuo depositando e acredito que, por mais complexa que seja a vida, sábio é quem a simplifica.

Depois me pediu para anotar:
COMO MANTER-SE JOVEM

1. Deixe fora os números que não são essenciais. Isto inclui a idade,o peso e a altura.
Deixe que os médicos se preocupem com isso.

2. Mantenha só os amigos divertidos. Os depressivos puxam para baixo.
(Lembre-se disto se for um desses depressivos!)

3. Aprenda sempre:
Aprenda mais sobre computadores, artes, jardinagem, o que quer que seja. Não deixe que o cérebro se torne preguiçoso.

'Uma mente preguiçosa é oficina do Alemão.' E o nome do Alemão é Alzheimer!

4. Aprecie mais as pequenas coisas.

5. Ria muitas vezes, durante muito tempo e alto. Ria até lhe faltar o ar.
E se tiver um amigo que o faça rir, passe muito e muito tempo com ele ou ela!

6. Quando as lágrimas aparecerem, aguente, sofra e ultrapasse.
A única pessoa que fica conosco toda a nossa vida somos nós próprios.
VIVA enquanto estiver vivo.

7. Rodeie-se das coisas que ama:
Quer seja a família, animais, plantas, hobbies, o que quer que seja.
O seu lar é o seu refúgio.

8. Tome cuidado com a sua saúde:
Se é boa, mantenha-a.
Se é instável, melhore-a.
Se não consegue melhorá-la , procure ajuda.

9. Não faça viagens de culpa. Faça uma viagem ao centro comercial, até a um país diferente, mas NÃO para onde haja culpa

10. Diga às pessoas que ama que as ama a cada oportunidade.

E, se não mandar isto a pelo menos quatro pessoas - quem é que se importa?
Serão apenas menos quatro pessoas que deixarão de sorrir ao ver uma
mensagem sua.

Mas se puder pelo menos partilhe com alguém!

"De nada vale a pena se não tocarmos o coração das pessoas."

(desconheço o autor)

quinta-feira, julho 09, 2009

Sobre a morte

"A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos."(Pablo Picasso)

Eu ontem soube que perdi um amigo. A dor foi imensa, intensa.

Meu coração, que já sangrava com a perda de um amor, doeu ainda mais. Como pode alguém morrer assim, de infarto, sem prévio aviso? Parecia desaforo! Morrer sem se despedir, sem dizer um até logo, só poderia ser mentira!

Um filme veio à minha mente: como nos conhecemos, como foram os momentos que passamos juntos, as risadas, os desabafos... E agora tudo acabou. Só fica o coração, doendo.... e a tristeza de saber que eu sequer disse adeus.

Será que lá, aonde quer que meu amigo esteja, ele se lembre que eu existo? Será que ele fez tudo o que tinha que fazer nesta vida? Será que demonstrou seu amor, seu afeto, seu carinho, pelas pessoas que o rodearam? Ou será que a sua vida era tão atribulada que não teve tempo de demonstrar nada disso?

Meu amigo Jonas, sentirei saudades sua, menino. Descanse em paz.



sábado, fevereiro 02, 2008

MUITA VELA PRA POUCO DEFUNTO

Caros amigos e leitores deste Blog,

Apresento-lhes o livro Muita Vela pra Pouco Defunto, de autoria de João Carlos Ronca Júnior.

Li o livro e o recomendo. O autor aborda, com muita propriedade, temas que fazem parte da alma humana. O livro é tão gostoso de se ler que se torna saboroso à alma, pois nutre-nos de sentimentos que nos levam à reflexão e à mudança interior.

Ronca Júnior sabe, como poucos, dar leveza às palavras. Essa leveza faz com que nós, leitores, devoremos o livro numa "tacada", de tão prazeirosa a leitura.

Deixe sua alma mais leve... leia o livro. Segue abaixo a sinopse.




MUITA VELA PRA POUCO DEFUNTO: este livro conquistou, de vez, o coração dos leitores!

Este mês você tem algum amigo fazendo aniversário?
Quer uma sugestão de presente?
Ofereça cultura!!!
Presenteie com um Livro de Contos:
"MUITA VELA PRA POUCO DEFUNTO"
Histórias do cotidiano como instrumento para a reflexão
Faça seu pedido pelo e-mail: jcrconsultoria@terra.com.br
OU VISITE O SITE "USINA DE LETRAS" PARA SABER MAIS SOBRE O LIVRO:
www.usinadeletras.com.br


Autor: João Carlos Ronca Júnior

Número de páginas : 174

Preço: R$ 30,00


Descrição
Livro de contos com histórias do cotidiano que poderão servir como instrumento para a reflexão.
O leitor poderá divisar com a leitura desde simples constatações de valores incrustados em seu coração e alma até profundas reflexões que poderão enriquecer seu modo de viver e encarar seus pais, filhos, amigos e irmãos.
É um livro com temas que levarão o leitor a discutir valores e princípios de vida que muitas vezes, por serem tão óbvios deixamos passarem despercebidos no nosso cotidiano.
Este livro é, sem dúvida alguma, um convite à reflexão tanto para os jovens como para os que já se consideram adultos.

sábado, outubro 13, 2007

Amor é síntese (Mário Quintana)

Por favor, não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu...
Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.

Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor.

segunda-feira, outubro 01, 2007

Demitiram o Gerúndio do Distrito Federal!!!

DECRETO Nº 28.314, DE 28 DE SETEMBRO DE 2007.
Demite o Gerúndio do Distrito Federal, e dá outras providências.
O GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL, no uso das atribuições que lhe confere o artigo
100, incisos VII e XXVI, da Lei Orgânica do Distrito Federal, DECRETA:
Art. 1° - Fica demitido o Gerúndio de todos os órgãos do Governo do Distrito Federal.
Art. 2° - Fica proibido a partir desta data o uso do gerúndio para desculpa de INEFICIÊNCIA.
Art. 3° - Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 4º - Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, 28 de setembro de 2007.
119º da República e 48º de Brasília


JOSÉ ROBERTO ARRUDA


(
Parece piada, mas não é. Quem tiver alguma dúvida, acesse o DODF, seção I, de 01/10/07, n. 189, p. 19.)

domingo, setembro 23, 2007

Quase Nada (Zeca Baleiro e Alice Ruiz)

de você sei quase nada
pra onde vai ou porque veio
nem mesmo sei
qual é a parte da tua estrada
no meu caminho

será um atalho
ou um desvio
um rio raso
um passo em falso
um prato fundo
pra toda fome que há no mundo

noite alta que revele
o passeio pela pele
dia claro madrugada
de nós dois não sei mais nada

se tudo passa como se explica
o amor que fica nessa parada
amor que chega sem dar aviso
não é preciso saber mais nada

sábado, setembro 22, 2007

Banda Batalá - Brasília (DF)


Criada em 1997 pelo baiano Giba Gonçalves, a batucada BATALA surgiu na França, com o objetivo de formar pessoas na arte da percussão, reunindo cerca de 50 músicos interpretando os ritmos afro-brasileiros do Samba Reggae.

Com a formação de multiplicadores, foram realizadas oficinas de dança e percussão, que auxiliaram na difusão do grupo BATALA, que se espalhou por outros países da Europa, como Inglaterra, Bélgica e País de Gales. Hoje, existem grupos estabelecidos nestes países que participam constantemente de eventos culturais, festivais e "carnavais" de rua.

No ano 2000, o brasiliense Paulo Garcia foi responsável pela criação do grupo na Inglaterra, e em 2003, já de volta ao Brasil, criou um grupo BATALA em Brasília, seguindo a mesma proposta de utilizar oficinas como forma de atrair novos participantes, mas com o diferencial de ser formado apenas por mulheres. Hoje o grupo conta com mais de 160 mulheres, de diferentes faixas etárias, da qual tenho a honra de fazer parte.




sexta-feira, setembro 21, 2007

    Tenho tanto sentimento
    Que é freqüente persuadir-me
    De que sou sentimental,
    Mas reconheço, ao medir-me,
    Que tudo isso é pensamento,
    Que não senti afinal.

    Temos, todos que vivemos,
    Uma vida que é vivida
    E outra vida que é pensada,
    E a única vida que temos
    É essa que é dividida
    Entre a verdadeira e a errada.

    Qual porém é a verdadeira
    E qual errada, ninguém
    Nos saberá explicar;
    E vivemos de maneira
    Que a vida que a gente tem
    É a que tem que pensar.

    Fernando Pessoa, 18-9-1933